Epilepsia e convulsão – é tudo igual?

Com a palavra, a Neurocirurgiã

Convulsão é um episódio de descarga excessiva da atividade elétrica cerebral, de forma súbita e anormal, que pode resultar em alteração sensitiva, motora, do comportamento ou do nível de consciência.

Nem todas as convulsões apresentam desmaio e movimentos com os braços e pernas, conhecida pela população como ataque epiléptico , crise epiléptica ou crise convulsiva generalizada. Há diversas formas de apresentação das convulsões e seu reconhecimento é importante.

As convulsões podem ter fatores desencadeantes como:

– hipoglicemia

– falta de oxigênio no cérebro

– febre alta

– alterações do sódio

– abuso de substâncias químicas ou abstinência delas (álcool, drogas)

– estímulo luminoso intenso e repetitivo

– privação de sono

– lesões no cérebro – tumores, AVC, meningite, traumatismo craniano

A epilepsia é uma das doenças neurológicas crônicas que ocorre com maior frequência no mundo. Considera-se epilepsia quando o paciente apresenta 2 ou mais crises convulsivas (recorrentes) sem fatores desencadeantes.

Há classificações para definição do diagnóstico e seguimento do paciente, para pesquisa e comunicação científica. Essas classificações tem revisões periódicas de acordo com desenvolvimento da ciência e melhor entendimento da doença. A classificação serve como guia para o desenvolvimento e escolha de tratamento.

A classificação atual de 2017 feita pela ILAE (International League against Epilepsy) propõe níveis de classificação de acordo com os recursos disponíveis em cada local.

1- tipo de crise – nível clínico

– importante a descrição de alguém que presenciou o evento;

– descartar se o evento não é convulsivo

2- tipo de epilepsia – nível clínico + EEG

– focal

– generalizada

– focal e generalizada combinada

– desconhecida

3- síndrome epiléptica – conjunto de dados que envolve características do tipo de crise, dados de EEG, de neuroimagem, idade do paciente, eventualmente englobando estudos genéticos e metabólicos.

Sugere-se buscar definir a etiologia em cada nível.

Os exames complementares à avaliação clínica que são utilizados geralmente para investigação de um quadro de epilepsia são:

– Eletroencefalograma (EEG): exame que registra as correntes elétricas emitidas pelo cérebro através de eletrodos colocados no couro cabeludo. Importante para o diagnóstico e seguimento. Um exame normal não descarta epilepsia

– Neuroimagem: geralmente tomografia e ressonância do crânio; há também estudos mais avançados de acordo com a necessidade. Procuram investigar possíveis causas estruturais

– Estudo genético e metabólico: forma de definir etiologia em casos específicos; pode influenciar no tratamento direcionado

O tratamento inicial é medicamentoso. Cerca de 70-80% casos terão crises controladas se diagnóstico correto e tratamento precoce. Outros 20-30% serão refratários ao tratamento e 5% dos casos serão considerados intratáveis levando a incapacidade de vida independente, com redução da capacidade física e intelectual. A cirurgia deve ser considerada quando a epilepsia for refratária ao tratamento medicamentoso e após estudos por equipes e centros especializados. Há procedimentos de remoção da área considerada como foco da epilepsia, sendo os melhores resultados, porém não são todos os pacientes com lesões estruturais tão delimitadas e candidatos a esse tratamento. Há ainda procedimentos considerados como “paliativos”, nos quais não se identificaram lesões para remoção e o objetivo é interromper ou modular vias que “espalham” as crises pelo cérebro.

A falta de acesso do paciente ao correto diagnóstico e tratamento, associado aos estigmas que a população tem em relação a esses pacientes, faz com que haja prejuízos psicológicos e sociais associados a doença.

O março roxo, dia 26, foi escolhido como o Dia Mundial de Conscientização sobre Epilepsia. O objetivo é informar e combater o preconceito sobre a doença.

Retirado do link – Associação Brasileira de Epilepsia – https://epilepsiabrasil.org.br/

A crise convulsiva não é um processo contagioso ou transmissível, sendo assim, não há qualquer risco para aquele que auxilia um indivíduo nesta condição.

É muito simples auxiliar uma pessoa durante uma crise convulsiva, entretanto é necessário saber o que você deve ou não fazer durante este momento.

O que fazer:

Mantenha-se calmo e acalme as pessoas ao seu redor;

Evite que a pessoa caia bruscamente ao chão;

Acomode o indivíduo em local sem objetos dos quais ela pode se debater e se machucar;

Utilize material macio para acomodar a cabeça do individuo, como por exemplo; um travesseiro, casaco dobrado ou outro material disponível que seja macio;

Posicione o indivíduo de lado de forma que o excesso de saliva ou vômito (pode ocorrer em alguns casos) escorram para fora da boca;

Afrouxe um pouco as roupas para que a pessoa respire melhor;

Permaneça ao lado da vítima até que ela recupere a consciência;

Ao término da convulsão a pessoa poderá se sentir cansada e confusa, explique o que ocorreu e ofereça auxílio para chamar um familiar.Observe a duração da crise convulsiva, caso seja superior a 5 minutos sem sinais de melhora, peça ajuda médica.

O que não deve ser feito durante a crise convulsiva:

Não impeça os movimentos da vítima, apenas se certifique de que nada ao seu redor irá machucá-la;

Nunca coloque a mão dentro da boca da vítima, as contrações musculares durante a crise convulsiva são muito fortes e inconscientemente a pessoa poderá mordê-lo;

Não jogue água no rosto da vítima.

Sobre o autor:

Dra. Fernanda Andrade
Dra. Fernanda AndradeNeurocirurgiã
Graduação, Residência e Pós Graduação FMUSP São Paulo.
Membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia Pediátrica SBNPED.
Membro da Internacional Society For Pediatric Neurosurgery ISPN.
Dor Intervencionista HC-FMRP.

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